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O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE INFLAÇÃO II: NOÇÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA

Atualizado: 17 de mar.


Fonte: Qwen2.5-Max
Fonte: Qwen2.5-Max

Como se trata de uma parte II, é altamente recomendável que você consulte a parte I para obter uma compreensão mais completa e contextualizada do conteúdo. No entanto, para facilitar o entendimento, revisaremos os pontos principais abordados anteriormente. Na parte 1, discutimos que a inflação pode ser definida como um aumento sustentado e generalizado do nível geral de preços em uma economia ao longo do tempo. Esse fenômeno não se refere ao aumento isolado de preços de um ou outro produto, mas sim a uma elevação contínua e disseminada dos preços de bens e serviços em diversos setores da economia.


Embora exista um consenso entre economistas de que a inflação é, em última instância, um fenômeno monetário (relacionado ao aumento da quantidade de moeda em circulação), suas causas são multifacetadas e complexas. Entre os fatores que podem desencadear ou amplificar a inflação, destacam-se: choques de demanda, choques de oferta, credibilidade do Banco Central (BC) e grau de competição no mercado.


A inflação fora de controle é sempre indesejável, pois gera uma série de distorções econômicas e sociais. Entre os principais efeitos negativos, podemos citar: (i) perda do poder de compra; (ii) incerteza econômica, tanto para empresas quanto para indivíduos; (iii) redistribuição de renda injusta; e (iv) probelmas no Balanço de Pagamentos etc.


A inflação é definida matematicamente como uma taxa de variação do nível de preços ao longo do tempo.


Se a inflação é frequentemente retratada como um "vilão" da economia, simbolizada pela figura de um dragão que ameaça a estabilidade e o bem-estar econômico, então quem é o "herói" responsável por enfrentá-la? A resposta mais imediata pode ser o Governo, e isso não está incorreto, mas, na prática, a tarefa de combater a inflação é delegada a uma instituição específica: o BC. Como vimos em matérias anteriores, cabe ao BC assegurar a manutenção do poder de compra da população, ou seja, garantir a estabilidade de preços. Essa é uma de suas principais missões, e para cumpri-la, o BC precisa estar sempre alerta, pronto para agir ao primeiro sinal das "garras inflacionárias".


Quando a inflação começa a se manifestar, o BC entra em cena munido de suas "armas" — ou, em termos técnicos, seus instrumentos de política monetária. Essas ferramentas são essenciais para controlar a oferta de moeda na economia, influenciar as taxas de juros e, consequentemente, moderar o nível de atividade econômica e a dinâmica dos preços. Já discutimos o papel do BC, mas agora vamos nos aprofundar nesses instrumentos de política monetária, entendendo como eles funcionam e em que contextos são utilizados.


Além disso, para compreender melhor a relação entre inflação e política monetária, é útil revisitar conceitos como o hiato do produto e o ciclo de negócios. O hiato do produto é a diferença entre o nível atual de produção da economia (representado por y) e o nível de produção potencial (representado por y*), que é o máximo que a economia pode produzir de forma sustentável, sem gerar pressões inflacionárias. Quando a economia opera acima de seu potencial (y > y*), dizemos que ela está em um hiato inflacionário. Nesse cenário, a demanda por bens e serviços supera a capacidade de produção, gerando pressões de preços e, consequentemente, atraindo a atenção do "dragão inflacionário".


REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO

Os economistas criaram um mecanismo sofisticado para monitorar e controlar a inflação, que funciona como um "termômetro" capaz de indicar quando a inflação começa a representar uma ameaça à estabilidade econômica. Esse mecanismo é chamado de Regime de Metas da Inflação (RMI), uma política amplamente adotada por diversos países, incluindo o Brasil. No caso brasileiro, a implementação e a supervisão do RMI são de responsabilidade do Conselho Monetário Nacional (CMN). O uso da palavra "regime" no nome não é casual: ela reflete o fato de que se trata de um conjunto de normas e procedimentos formalmente estabelecidos, por meio dos quais o governo — ou, mais especificamente, a autoridade monetária — se compromete publicamente a agir na economia de maneira transparente e previsível, tanto perante a iniciativa privada quanto diante da sociedade em geral. Esse compromisso visa garantir a credibilidade e a eficácia das políticas adotadas para manter a inflação sob controle.


No entanto, o RMI vai além de um simples termômetro. Como o próprio nome sugere, ele estabelece um alvo explícito para a inflação, que deve ser perseguido e mantido pela autoridade monetária. Esse alvo não é um valor único, mas sim um intervalo de tolerância, composto por um limite inferior e um limite superior. Esse intervalo define a faixa dentro da qual a inflação é considerada controlada e aceitável. Por exemplo, no Brasil, o CMN pode definir uma meta de inflação de 3% ao ano, com um intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%. Isso significa que a inflação deve flutuar dentro dessa banda para que se considere a estabilidade de preços alcançada.


Quando a inflação começa a se aproximar dos limites do intervalo de tolerância estabelecido pelo RMI — ou até mesmo os ultrapassa —, seja o limite superior ou o inferior, o BC precisa entrar em estado de alerta. Isso ocorre porque o RMI não é apenas uma ferramenta de monitoramento, mas também um compromisso público assumido pela autoridade monetária de que fará todo o necessário para manter a inflação dentro da faixa definida. De acordo com o BC, a meta é considerada descumprida se a inflação permanecer fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos. A adoção desse período de análise evita que situações temporárias, como choques pontuais nos preços de alimentos ou energia, sejam interpretadas como descumprimento da meta. Por exemplo, um aumento temporário nos preços de commodities pode fazer com que a inflação ultrapasse o limite superior por alguns meses, mas isso não significa necessariamente que o BC falhou em seu objetivo. O gráfico abaixo ilustra a trajetória da meta de inflação estabelecida desde o ano de 2015.



No entanto, se a inflação permanecer fora da faixa de tolerância por um período prolongado, o BC é obrigado a agir de forma imediata. Isso inclui apresentar publicamente as razões do descumprimento por meio de nota no Relatório de Política Monetária e carta aberta ao Ministro da Fazenda, além de ajustar sua política monetária para restabelecer a inflação dentro do intervalo desejado. Nos anos de 2021, 2022 e 2024, houve descumprimento da meta, com a inflação ultrapassando o limite superior da faixa de tolerância. Como previsto, o presidente do BC publicou as cartas abertas explicando os motivos do descumprimento. Para acessar essas cartas, basta consultar o "Histórico das metas para a inflação" na página oficial do Banco Central.


Mas por que o BC deveria se preocupar caso a inflação se aproximasse do limite inferior? A resposta é simples: uma inflação muito baixa ou negativa — conhecida como deflação — pode ser tão prejudicial para a economia quanto uma inflação elevada. Ainda observando o gráfico do IPCA e da meta para a inflação, é possível notar que houve deflação em 2017. Nesse contexto, o presidente do BC também publicou uma carta aberta explicando a inflação de 2,95%, que ficou abaixo do limite inferior da faixa de tolerância (3,0%-6,0%).



COPOM E A SELIC META

Agora, vamos abordar outra meta crucial no cenário econômico: a SELIC Meta. Antes de detalharmos seu funcionamento, é importante compreender o papel do Comitê de Política Monetária (Copom), o órgão do Banco Central responsável por definir a taxa básica de juros da economia brasileira. O Copom é composto pelo presidente do BC e seus diretores, que se reúnem a cada 45 dias para decidir se a taxa SELIC será aumentada, reduzida ou mantida. Esse processo decisório é meticuloso e busca embasar as escolhas do Comitê em análises técnicas e dados robustos.



Durante as reuniões, os membros do Copom assistem a apresentações detalhadas feitas pela equipe técnica do Banco Central, que abordam temas como a evolução e as perspectivas da economia brasileira e global, as condições de liquidez do mercado financeiro e o comportamento dos mercados domésticos e internacionais. Essas informações são fundamentais para que o Comitê avalie o cenário econômico atual e projete tendências futuras. Com base nessa análise, os membros do Copom votam para definir a direção da política monetária, decidindo se a taxa Selic será ajustada para cima, para baixo ou mantida no mesmo patamar. O gráfico abaixo mostra a trajetória da taxa Selic a partir de 2015.

Com base na figura "Meta para a taxa Selic", é possível observar que o comportamento da Selic nos anos de 2017, 2021, 2022 e 2024 esteve alinhado com as variações da inflação efetiva em relação aos respectivos intervalos de tolerância. Em 2017, por exemplo, houve uma tendência de queda na Selic, refletindo o cenário de deflação naquele período. Por outro lado, entre 2021 e 2022, o aumento da Selic foi bastante significativo, acompanhando a pressão inflacionária observada nesses anos. Essa dinâmica demonstra como a política monetária foi ajustada para responder às mudanças no cenário econômico e aos desvios da inflação em relação às metas estabelecidas.


Dessa forma, a política monetária pode assumir duas formas principais, dependendo do contexto econômico: expansionista ou contracionista.

  • Política Monetária Expansionista: Essa política é adotada quando a economia opera muito abaixo do seu potencial, em um cenário de hiato recessivo ou recessão. Nesse caso, o objetivo do BC é aquecer a economia, estimulando o crescimento e aproximando a produção do seu nível potencial. Para isso, o Copom tende a reduzir a taxa Selic, o que torna o crédito mais barato e incentiva o consumo e os investimentos. Essa medida busca reativar a demanda agregada e impulsionar a atividade econômica.

  • Política Monetária Contracionista: Por outro lado, quando a economia enfrenta um ciclo inflacionário, com pressões de demanda ou oferta elevando os preços, o Banco Central adota uma política contracionista. Nesse caso, o objetivo é desaquecer a atividade econômica, reduzindo a demanda agregada para controlar a inflação. Para isso, o Copom eleva a taxa Selic, encarecendo o crédito e desincentivando o consumo e os investimentos. Essa medida é frequentemente chamada de "remédio amargo", pois, ao frear a economia, pode levar a uma redução temporária da produção e do emprego. Esse efeito colateral é conhecido pelos economistas como o custo da desinflação.


O custo da desinflação refere-se aos sacrifícios econômicos necessários para reduzir a inflação. Quando o BC eleva os juros para controlar os preços, a economia tende a desacelerar, podendo resultar em menor crescimento, aumento do desemprego e redução da renda das famílias. Esse trade-off entre inflação e atividade econômica é um dos grandes desafios da política monetária.


INSTRUMENTOS DE POLÍTICA MONETÁRIA

Os instrumentos de política monetária são ferramentas utilizadas pelo BC (ou autoridade monetária de um país) para controlar a oferta de moeda, a liquidez e as taxas de juros na economia. O quadro abaixo resume os principais instrumentos de política monetária:


Fonte: Elaboração própria com base em Lopes e Rossetti (2015)
Fonte: Elaboração própria com base em Lopes e Rossetti (2015)

De acordo com Lopes e Rossetti (2015), o open market é o instrumento de política monetária mais ágil e de efeito mais imediato, quando comparado aos demais. Uma vez que a taxa de juros não é definida por decreto, o BC precisa atuar, por meio de seus instrumentos de política monetária, para influenciar as condições financeiras e alcançar os resultados desejados. Especificamente, no caso das operações de mercado aberto, essas transações são realizadas por meio de dealers, instituições financeiras credenciadas a operar em nome do BC, que compram e vendem títulos públicos.


MECANISMOS DE TRANSMISSÃO

A política monetária influencia a demanda agregada e, consequentemente, a inflação por meio de diversos canais. O BC destaca cinco principais mecanismos de transmissão: (i) investimento e consumo, (ii) crédito, (iii) expectativas, (iv) câmbio e (v) riqueza.




A imagem acima descreve os diferentes mecanismos pelos quais a política monetária, principalmente através da taxa básica de juros (Selic), influencia a economia brasileira. Aqui está uma explicação detalhada de cada canal:


  • Canal do Investimento e Consumo: A Selic serve como referência para outras taxas de juros na economia. Quando os juros reais (taxa de juros ajustada pela inflação) caem, o custo de empréstimos diminui, incentivando o consumo e o investimento. Taxas de juros mais baixas podem reduzir a poupança e aumentar os preços, já que as pessoas tendem a gastar mais em vez de poupar.

  • Canal do Crédito: A Selic influencia o custo dos empréstimos para os bancos. Quando os bancos reduzem as taxas de empréstimo, a demanda por crédito aumenta, o que pode levar a um aumento no consumo e nos preços.

  • Canal do Câmbio: Uma redução na taxa de juros pode tornar o país menos atraente para investidores estrangeiros, reduzindo o fluxo de moeda estrangeira. Isso pode levar à desvalorização da moeda local (por exemplo, o dólar fica mais caro frente ao Real), encarecendo os produtos importados e afetando a inflação.

  • Canal das Expectativas: As taxas de juros afetam as expectativas de famílias e empresas sobre a atividade econômica e a inflação. Se as pessoas esperam que a economia se recupere, podem aumentar seus gastos, o que pode levar a um aumento nos preços.

  • Canal da Riqueza: A redução dos juros aumenta o valor presente de ativos como casas, títulos e ações. Quando o valor desses ativos aumenta, as famílias e empresas podem se sentir mais ricas, aumentando seus gastos e influenciando os preços.


Esses canais ilustram como mudanças na política monetária podem ter efeitos amplos e interconectados na economia, afetando desde o consumo e investimento até o câmbio e as expectativas dos agentes.


Com isso, concluímos a série "O mínimo que você precisa saber sobre inflação". É importante ressaltar que o conteúdo apresentado oferece uma visão resumida e introdutória sobre a dinâmica da inflação e o funcionamento da política monetária. Para aqueles que desejam explorar o tema com maior profundidade, recomendamos consultar as referências e os links sugeridos ao longo da série, que podem servir como ponto de partida para um entendimento mais detalhado e abrangente desses conceitos fundamentais para a economia.



REFERÊNCIAS

LOPES, João do C.; ROSSETTI, José P. Economia Monetária. – 9. ed. ver. ampl. e atual. – 5. reimp. – São Paulo: Atlas, 2015.

Sugestão de leituras:

Sugestão de vídeos:


Os links indicados foram acessados ​​em 14 de março de 2025.


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