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O QUE PENSA MARCOS LISBOA V: “O BRASIL NÃO É UM PAÍS POBRE À TOA"


Em entrevista ao programa “Central News” (Globo News), em 21 de agosto de 2019, o economista Marcos Lisboa fez uma observação contundente: “O Brasil não é um país pobre à toa. Isso aqui é trabalho de profissional. Fazemos um esforço imenso para ser um país pobre”. A declaração, aparentemente paradoxal, revela uma dura realidade: nosso atraso não é acidental, mas sim consequência de escolhas políticas e institucionais persistentes ao longo de décadas.


Esse cenário pode ser explicado por três elementos interligados:

  • Grupos de pressão: setores organizados que defendem interesses específicos, muitas vezes em detrimento do bem comum.

  • Governo sensível a grupos de interesse: uma máquina pública que, em vez de priorizar reformas de longo prazo, cede a demandas setoriais imediatistas.

  • Sociedade que naturaliza essa estrutura: uma parcela significativa da população aceita ou até mesmo legitima esse sistema, seja por conformismo, desinformação ou falta de alternativas.


O resultado é a perpetuação de uma agenda ultrapassada, em que problemas estruturais são sistematicamente negligenciados. O Brasil não enfrenta apenas crises recentes, mas sim o peso acumulado de desafios antigos que nunca foram verdadeiramente resolvidos. Entre eles, destacam-se a crise dos Estados, com governos estaduais e municipais à beira do colapso fiscal, sem capacidade para investir em serviços básicos; a deterioração fiscal, marcada pelo crescimento descontrolado da dívida pública e pela falta de um planejamento orçamentário consistente, o que limita drasticamente o potencial de desenvolvimento; as intervenções excessivas do Estado, com políticas econômicas inconsistentes, excesso de burocracia e um ambiente de negócios hostil, que desestimulam a produtividade e a inovação; e, por fim, a baixa produtividade crônica, que trava a competitividade da economia brasileira no cenário global.


Lisboa trouxe à tona um conceito fundamental para entender os equívocos recorrentes da política econômica brasileira: a "criatividade destrutiva". Trata-se de um movimento nocivo, diametralmente oposto à "destruição criativa" de Schumpeter, que descreve o processo natural pelo qual inovações substituem estruturas obsoletas, impulsionando o progresso econômico. No Brasil, porém, ocorre o inverso – uma suposta "inovação" que, na prática, gera retrocesso. Aqui, a intervenção estatal frequentemente se manifesta como uma engenhosidade mal direcionada: políticas mirabolantes, sem lastro em evidências, são implementadas para atender a grupos de interesse, resultando em fracassos previsíveis e custos elevados para a sociedade.


Essa dinâmica se sustenta em três pilares principais. Primeiro, há uma desconexão entre as políticas adotadas e a realidade econômica. Muitas medidas são formuladas com base em ideologias ou pressões corporativas, ignorando lições básicas de economia e experiências internacionais. Segundo, existe uma tendência a soluções mágicas – como se fosse possível contornar trade-offs fundamentais por meio de artifícios regulatórios ou gastos públicos irresponsáveis. Terceiro, quando os resultados são desastrosos, a responsabilidade é órfã, e os mesmos erros se repetem em um ciclo vicioso de improvisação e ineficiência.


Dois exemplos ilustram claramente esse fenômeno. O primeiro é a insistência em políticas protecionistas para a indústria nacional, com subsídios, barreiras comerciais e créditos favorecidos. A justificativa é sempre a mesma: "defender o emprego e a produção local". Na prática, porém, o que se cria são indústrias frágeis, dependentes do Estado e pouco competitivas. Em vez de estimular a produtividade, o protecionismo gera estagnação tecnológica e preços mais altos para os consumidores. Quando o apoio estatal acaba, muitas empresas quebraram, e o saldo é um setor industrial ainda mais vulnerável.


O segundo exemplo são os “experimentos monetários” irresponsáveis, como a redução dos juros em períodos de inflação alta. Movidos por um discurso desenvolvimentista ou por pressões políticas, governos tentam forçar o barateamento do crédito antes que a economia esteja preparada. O resultado é previsível: a inflação se descontrola, o Banco Central é obrigado a corrigir o erro com juros ainda mais altos, e o país entra em um ciclo de instabilidade e baixo crescimento.


Além da arraigada cultura de negligenciar problemas estruturais e da aversão a questionar os verdadeiros custos das intervenções estatais, outro traço marcante da velha agenda brasileira é a compulsão por buscar bodes expiatórios. Essa postura, que já se tornou um padrão recorrente em nossa história, desvia o foco das verdadeiras causas dos problemas, substituindo a análise técnica por narrativas convenientes que culpam desde o "mercado" e "elites retrógradas" até "forças externas" e "especuladores".


Esses problemas não surgiram do nada – são consequências de décadas de más decisões, clientelismo e falta de accountability. Enquanto o país não romper com esse ciclo vicioso, continuará a "fazer um esforço imenso para ser um país pobre", como bem definiu Lisboa. A saída exige não apenas mudanças pontuais, mas uma transformação profunda na forma como a política e a economia funcionam no Brasil.


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