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PRODUTO POTENCIAL, HIATO DO PRODUTO E CICLOS DE NEGÓCIOS

Atualizado: 28 de fev.


Fonte: Elaboração própria.
Fonte: Elaboração própria.

Se você é alguém que acompanha noticiários, especialmente aqueles que abordam temas econômicos, provavelmente já se deparou com manchetes como: “o desemprego está em queda”, “o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano foi menor do que o do ano passado” ou “a inflação está saindo do controle”. Cada uma dessas situações poderia ser pensada em sentido oposto: o desemprego poderia estar aumentando, o PIB poderia estar em expansão, ou poderíamos estar enfrentando um cenário de deflação (queda no nível geral de preços).


Esses exemplos servem para ilustrar o quanto a economia é dinâmica e está sujeita a flutuações ao longo do tempo. Essas oscilações, conhecidas como flutuações econômicas ou ciclos de negócios, são movimentos que refletem a aproximação ou o distanciamento da economia em relação ao seu produto potencial.


O produto potencial é um conceito fundamental para entender a saúde econômica de um país. Ele representa o nível de produção que uma economia pode alcançar de forma sustentável, sem gerar pressões inflacionária. Em outras palavras, é o ponto em que a economia opera com todos os seus recursos produtivos (mão de obra, capital, tecnologia etc.) sendo utilizados de forma plena, mas sem ultrapassar os limites que poderiam levar a um aumento descontrolado dos preços. Quando a economia atinge esse ponto, diz-se que ela está em pleno emprego, o que significa que todos os fatores de produção estão sendo utilizados de maneira otimizada.


No entanto, dificilmente a economia opera exatamente no seu produto potencial. Em vez disso, ela oscila em torno desse ponto, alternando entre períodos de expansão (quando a economia está crescendo, é possível que ela supere seu nível de produção potencial) e recessão (quando a produção está caindo, inclusive abaixo do potencial). Essas oscilações são influenciadas por uma série de fatores, como mudanças na demanda agregada, choques de oferta, políticas monetárias e fiscais, choques externos (como crises internacionais ou variações nos preços das commodities) e até mesmo expectativas dos agentes econômicos. Para visualizar melhor esse conceito, considere o gráfico abaixo:


Fonte: Elaboração própria.
Fonte: Elaboração própria.

O PIB real (Produto Interno Bruto ajustado pela inflação) é plotado no eixo vertical, enquanto o tempo é representado no eixo horizontal. A linha reta (linha de tendência) na cor laranja simboliza a tendência de longo prazo, que corresponde ao produto potencial da economia. Já a curva em ziguezague representa as flutuações do PIB real ao longo do tempo, refletindo os altos e baixos da atividade econômica.


Observe que a curva do PIB real pode se situar acima, abaixo ou até mesmo cruzando a linha da tendência de longo prazo. Cada uma dessas posições tem um significado econômico específico e reflete diferentes estágios do ciclo econômico.


Quando a curva do PIB real está acima da linha de tendência, como no ponto "A", a economia está em um ciclo inflacionário. Nesse caso, a produção está acima do potencial, o que significa que os fatores de produção estão sendo utilizados além de sua capacidade sustentável. Esse excesso de demanda pode levar a pressões inflacionárias, já que os recursos disponíveis (mão de obra, matérias-primas etc.) estão sendo utilizados de forma intensiva, o que tende a elevar os custos e, consequentemente, os preços.


Por outro lado, quando a curva do PIB real se encontra abaixo da linha de tendência, como no ponto "B", a economia está em um ciclo recessivo. Nesse estágio, a produção está abaixo do potencial, o que significa que há uma subutilização dos fatores de produção. Em outras palavras, há uma alta taxa de desemprego (muita gente sem trabalho) e uma capacidade ociosa nas fábricas (máquinas paradas). Esse cenário é caracterizado por uma demanda insuficiente, baixo crescimento econômico e, muitas vezes, queda nos preços (deflação) ou inflação muito baixa.


O cenário ideal para a economia é que ela opere no pleno emprego ou muito próximo dele, ou seja, no ponto em que o PIB real coincide com o produto potencial. Nesse estágio, os recursos produtivos estão sendo utilizados de forma eficiente, sem gerar pressões inflacionárias ou desemprego elevado. É o chamado "equilíbrio macroeconômico".


Além dos pontos "A" e "B", o gráfico também permite visualizar o estágio de desaceleração, que ocorre quando a economia começa a apresentar sinais de queda na atividade econômica. Quando há duas quedas consecutivas no PIB trimestral, os economistas costumam caracterizar esse cenário como uma recessão técnica. Embora isso nem sempre signifique uma recessão prolongada, pode ser um sinal de alerta para uma recessão de fato, que ocorre quando a atividade econômica cai por um período mais extenso, com impactos significativos sobre o emprego, a renda e o bem-estar da população.


Por fim, o gráfico também mostra o estágio de recuperação, que representa a fase em que a economia começa a se recuperar após um período de contração. Nesse momento, há uma melhora no desempenho econômico, com aumento do PIB real, redução do desemprego e retomada da confiança dos consumidores, dos empresário e dos investidores.


Essas flutuações da economia podem ser causadas por uma variedade de fatores, incluindo:


  • Tendências sazonais: Variações temporárias na atividade econômica, como o aumento do consumo durante as festas de fim de ano.

  • Políticas econômicas: Medidas adotadas pelo governo ou pelo Banco Central, como mudanças nas taxas de juros ou nos gastos públicos.

  • Expectativas e confiança: Mudanças no otimismo ou pessimismo dos consumidores e empresários, que afetam o consumo e os investimentos.

  • Setor externo: Comportamento dos parceiros comerciais, variações nas taxas de câmbio ou crises internacionais.


Embora seja possível identificar os ciclos econômicos após eles ocorrerem (ou enquanto estão em andamento), prever com exatidão quando eles vão acontecer é uma tarefa extremamente complexa. Economistas e analistas dependem da análise de indicadores macroeconômicos para monitorar a saúde da economia, como o PIB real, a taxa de inflação, a taxa de desemprego e estimativas do produto potencial. No entanto, a economia é influenciada por uma infinidade de variáveis, muitas delas imprevisíveis, o que torna os ciclos econômicos um fenômeno desafiador.


Vamos explorar outra forma gráfica de compreender o conceito de hiato do produto, que é a diferença entre o nível de produção efetivo de uma economia e seu produto potencial. Para isso, utilizaremos um modelo gráfico que envolve a interação entre a Demanda Agregada (DA), a Oferta Agregada de Curto Prazo (OACP) e a Oferta Agregada de Longo Prazo (OALP).


No gráfico, vamos representar a inflação (π) no eixo vertical e o nível de produção (y) no eixo horizontal. A OALP é representada por uma linha vertical, que corresponde ao produto potencial (y*). Já a DA é representada por uma curva com inclinação negativa, que reflete a relação inversa entre π e a quantidade demandada de bens e serviços. A DA é composta por quatro componentes principais: consumo das famílias, investimentos das firmas, gastos do governo e exportações líquidas (setor externo). Por fim, a OACP é representada por uma curva com inclinação positiva, que mostra a relação direta entre π e a quantidade ofertada de bens e serviços no curto prazo. Essa curva reflete o nível de produção efetivo (y) em um determinado período.


Cenário 1: Queda da Demanda Agregada

Suponha que, por algum motivo, ocorra uma queda na DA. Isso pode ser causado, por exemplo, por uma redução no consumo das famílias (devido a incertezas econômicas ou aumento do desemprego) ou por uma contração nos investimentos das firmas (devido a taxas de juros mais altas ou expectativas pessimistas). Nesse caso, a curva da DA se desloca para baixo e para a esquerda.


Inicialmente, a economia estava operando no ponto A, onde a produção efetiva (y) era igual ao produto potencial (y*), ou seja, não havia hiato do produto. Com o deslocamento da DA, a economia passa a operar no ponto B, onde a produção efetiva é menor que o produto potencial (y < y*). Esse cenário caracteriza um hiato recessivo, em que a economia está produzindo abaixo do seu potencial. Como consequência, há uma redução na taxa de inflação (π1 < π*), já que a demanda por bens e serviços diminui, exercendo uma pressão descendente sobre os preços.


Fonte: Elaboração própria.
Fonte: Elaboração própria.

Cenário 2: Aumento da Demanda Agregada

Agora, suponha o oposto: um aumento na DA. Isso pode ocorrer, por exemplo, devido a um crescimento do consumo das famílias (impulsionado por aumento da renda ou confiança do consumidor) ou a um aumento nos investimentos das firmas (devido a taxas de juros mais baixas ou expectativas otimistas). Nesse caso, a curva da DA se desloca para cima e para a direita.


Se a economia inicialmente estava operando no ponto A (y = y*), o aumento da DA leva a um novo equilíbrio no ponto C, onde a produção efetiva é maior que o produto potencial (y2 > y*). Esse cenário caracteriza um hiato inflacionário, em que a economia está operando acima do seu potencial. Como resultado, há um aumento na taxa de inflação (π > π*), já que a demanda por bens e serviços supera a capacidade produtiva da economia, gerando pressões ascendentes sobre os preços.


Aqui cabe uma distinção importante: potencial versus capacidade máxima. Observe que, quando falamos em potencial, não significa que a economia não possa produzir, no curto prazo, mais do que um determinado nível máximo. De forma mais precisa, o produto potencial tem menos a ver com um limite superior de produção e mais a ver com um nível sustentável de produção, isto é, sem gerar aceleração da inflação.


O produto potencial é uma variável que não pode ser observada diretamente. Por essa razão, trata-se de uma estimativa, ou seja, uma aproximação que busca refletir o nível máximo de produção que uma economia pode alcançar de forma sustentável, sem gerar pressões inflacionária.

Existem diversos métodos para calcular o produto potencial, cada um com suas particularidades e abordagens. No entanto, o objetivo deste texto não é detalhar esses métodos, mas sim apresentar uma definição introdutória sobre o conceito. Para aqueles que desejam se aprofundar no tema, recomendamos a leitura de um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que explora os diferentes métodos de estimação e sua aplicação à economia brasileira. Esse material pode ser encontrado nas sugestões de leitura ao final deste conteúdo. Em textos futuros, os métodos de cálculo serão abordados com maior detalhamento.


Compreender esses conceitos é essencial para analisar as políticas econômicas adotadas pelos governos e bancos centrais. Por exemplo, em momentos de recessão, políticas expansionistas (como cortes de juros ou aumento de gastos públicos) podem ser adotadas para estimular a demanda e levar a economia de volta ao seu potencial. Já em momentos de superaquecimento, políticas contracionistas (como aumento de juros ou redução de gastos) podem ser necessárias para evitar que a inflação saia do controle.


Sugestão de leituras:

Sugestão de vídeos:

Os links indicados foram acessados ​​em 27 de fevereiro de 2025.




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